Novo Testamento - Domingo, 10/01/2010

Mateus – capítulo 26 – vers. 69 a 75
69. Mas Pedro estava sentado fora, no pátio; e aproximou-se dali uma criada, dizendo: também tu estavas com Jesus o galileu. 70. Ele, porém, negou diante de todos, dizendo: Não sei o que dizes. 71. Saindo, pois, para o vestíbulo, outra viu-o e disse aos dali: este estava com Jesus o nazoreu. 72. E de novo negou com juramento: “não conheço esse homem”. 73. Depois de pouco, chegando, os presentes disseram a Pedro: Realmente também tu és um deles, pois até teu sotaque o faz manifesto 74. Então começou a amaldiçoar e jurar: “Não conheço esse homem”. E imediatamente o galo cantou. 75. E lembrou-se Pedro da palavra de Jesus, que disse: 'Que antes de o galo cantar, três vezes me negarás”. E indo para fora, chorou amargamente.

Estudo do Livro Sabedoria do Evangelho – Carlos Torres Pastorino
As Negações de Pedro

A essa hora, Jesus devia estar saindo da sala de audiência no primeiro pavimento e descendo para o pátio, ainda algemado, para ser preparado e levado ao Sinédrio, a fim de ser interrogado e julgado, logo que o sol surgisse. Entre todo o grupo, distingue com Seu olhar percuciente o querido discípulo Pedro que, ao ver-Lhe o olhar triste e bom, e ao ouvir os insistentes cantos do galo, se lembra da previsão do Rabbi amado e se perturba de tal forma, que sai rápido do palácio de Caifás e prorrompe num
choro convulsivo, em certo local onde, no 5.º ou 6.º século foi construída uma igreja que recebeu a denominação de “São Pedro in galli cantu”.
E ele que dissera que O seguiria até a morte!
Lição dura, mas proveitosa, contra a PRESUNÇÃO que todos temos, de que somos melhores que os outros e de que temos capacidade absoluta de resistir a qualquer prova. Para todos nós é muito fácil depreciar as façanhas alheias, menosprezar a coragem demonstrada pelos outros, ou acusar de covardia uma desculpa que permita a penetração em local proibido, contanto que se acompanhe um amigo na hora do perigo.
Pedro NEGOU conhecer seu Mestre, mas não o RENEGOU: proferiu sons com a boca, mas o coração Lhe permanecia fiel, tanto que ali se meteu, no local do maior perigo, para não abandoná-Lo. Suas negações verbais eram meramente escanteios para conservar-se ao lado de Jesus.
Seu choro vem sendo interpretado há dois mil anos como arrependimento profundo de tê-Lo negado. Não poderia ter sido antes o choque de ver que não havia sido libertado, mas ao invés era levado a julgamento, sem que ele pudesse acompanhá-Lo? Não poderia ter sido o desespero da impotência de arrancá-Lo das mãos dos captores? Não poderia ter sido pela decepção da certeza de que a força e os poderes de seu Mestre tudo venceriam com facilidade, e que ali falhavam?
A sucessão rápida e imprevisível dos acontecimentos dolorosos naquela noite cheia de ocorrências choca profundamente a emotividade de Pedro, cujo corpo astral já se achava saturado de fluidos barônticos de tristeza, desapontamento, mágoa, ansiedade, angústia, medo, desorientação, dúvida e também arrependimento; e quando riscou o ar a física de som e de luz (o canto do galo e o olhar de Jesus), se produziu intensa a centelha eletrolítica que fez arrebentar o dique que represava a emoção, e abriu em catarata suas lágrimas incontroláveis, que borbotaram abundantes, aliviando a pressão interna e purificando o corpo astral. Lágrimas, válvula de escape, de que a natureza dotou o homem,
para que pudesse suportar os grandes impactos emotivos. A negação de Pedro, naquela circunstância, constituiu uma estratégia inteligente não a covardia dos que renegam para vender-se ao partido contrário: negou para afirmar e confirmar sua adesão ao Mestre.

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