Leitura do Evangelho Segundo o Espiritismo

Durante reuniao de Estudo do Novo Testamento - Domingo 03/01/2010

CAPÍTULO XXIII - ESTRANHA MORAL
Abandonar pai, mãe e filhos

4. Aquele que houver deixado, pelo meu nome, sua casa, os seus irmãos, ou suas
irmãs, ou seu pai, ou sua mãe, ou sua mulher, ou seus filhos, ou suas terras, receberá o
cêntuplo de tudo isso e terá por herança a vida eterna. (S. MATEUS, cap. XIX, v. 29.)
5. Então, disse-lhe Pedro: Quanto a nós, vês que tudo deixamos e te seguimos. -
Jesus lhe observou: Digo-vos, em verdade, que ninguém deixará, pelo reino de Deus, sua
casa, ou seu pai, ou sua mãe, ou seus irmãos, ou sua mulher, ou seus filhos - que não
receba, já neste mundo, muito mais, e no século vindouro a vida eterna. (S. LUCAS, cap. XVIII, vv. 28 a 30.)

6. Disse-lhe outro: Senhor, eu te seguirei; mas, permite que, antes, disponha do
que tenho em minha casa. - Jesus lhe respondeu: Quem quer que, tendo posto a mão na
charrua, olhar para trás, não está apto para o reino de Deus. (S. LUCAS, cap. IX, vv. 61
e 62.)


Sem discutir as palavras, deve-se aqui procurar o pensamento, que era, evidentemente,
este: "Os interesses da vida futura prevalecem sobre todos os interesses e todas as
considerações humanas", porque esse pensamento está de acordo com a substância da
doutrina de Jesus, ao passo que a idéia de uma renunciação à família seria a negação dessa doutrina.
Não temos, aliás, sob as vistas a aplicação dessas máximas no sacrifício dos interesses
e das afeições de família aos da Pátria? Censura-se, porventura, aquele que deixa seu pai, sua mãe, seus irmãos, sua mulher, seus filhos, para marchar em defesa do seu país? Não se lhe reconhece, ao contrário, grande mérito em arrancar-se às doçuras do lar doméstico, aos liames da amizade, para cumprir um dever? E que, então, há deveres que sobrelevam a outros deveres. Não impõe a lei à filha a obrigação de deixar os pais, para acompanhar o esposo?
Formigam no mundo os casos em que são necessárias as mais penosas separações. Nem por
isso, entretanto, as afeições se rompem. O afastamento não diminui o respeito, nem a
solicitude do filho para com os pais, nem a ternura destes para com aquele. Vê-se, portanto, que, mesmo tomadas ao pé da letra, excetuado o termo odiar, aquelas palavras não seriam uma negação do mandamento que prescreve ao homem honrar a seu pai e a sua mãe, nem do afeto paternal; com mais forte razão, não o seriam, se tomadas segundo o espírito. Tinham elas por fim mostrar, mediante uma hipérbole, quão imperioso é para a criatura o dever de ocupar-se com a vida futura. Aliás, pouco chocantes haviam de ser para um povo e numa época em que, como conseqüência dos costumes, os laços de família eram menos fortes, do que no seio de uma civilização moral mais avançada. Esses laços, mais fracos nos povos primitivos, fortalecem-se com o desenvolvimento da sensibilidade e do senso moral. A própria separação é necessária ao progresso. Assim as famílias como as raças se abastardam, desde que se não entrecruzem, se não enxertem umas nas outras. É essa uma lei da Natureza, tanto no interesse do progresso moral, quanto no do progresso físico.
Aqui, as coisas são consideradas apenas do ponto de vista terreno. O Espiritismo nolas
faz ver de mais alto, mostrando serem os do Espírito e não os do corpo os verdadeiros
laços de afeição; que aqueles laços não se quebram pela separação, nem mesmo pela morte do corpo; que se robustecem na vida espiritual, pela depuração do Espírito, verdade consoladora da qual grande força haurem as criaturas, para suportarem as vicissitudes da vida. (Cap. IV, nº18; cap. XIV, nº 8.)

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