Reunião de Estudo: O Livro dos Espíritos (115)

Ano VIII - 26/08/2012
Parte Segunda - Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos Capítulo II - DA ENCARNACÃO DOS ESPÍRITOS

Materialismo

148. Não é de lastimar que o materialismo seja uma conseqüência de estudos que
deveriam, contrariamente, mostrar ao homem a superioridade da inteligência que governa
o mundo? Deve-se daí concluir que são perigosos?
“Não é exato que o materialismo seja uma conseqüência desses estudos. O homem é
que deles tira uma conseqüência falsa, pela razão de lhe ser dado abusar de tudo, mesmo
das melhores coisas. Acresce que o nada os amedronta mais do que eles quereriam que
parecesse, e os espíritos fortes, quase sempre, são antes fanfarrões do que bravos. Na sua
maioria, só são materialistas porque não têm com que encher o vazio do abismo que diante
deles se abre. Mostrai-lhes uma âncora da salvação e a ela se agarrarão pressurosamente.”
Por uma aberração da inteligência, pessoas há que só vêem nos seres orgânicos a
ação da matéria e a esta atribuem todos os nossos atos. No corpo humano apenas vêem a
máquina elétrica; somente pelo funcionamento dos órgãos estudaram o mecanismo da vida,
cuja repetida extinção observaram, por efeito da ruptura de um fio, e nada mais enxergaram além desse fio.
Procuraram saber se alguma coisa restava e, como nada acharam senão matéria, que se
tornara inerte, como não viram a alma escapar-se, como não a puderam apanhar, concluíram
que tudo se continha nas propriedades da matéria e que, portanto, à morte se seguia a
aniquilação do pensamento. Triste conseqüência, se fora real, porque então o bem e o mal
nada significariam, o homem teria razão para só pensar em si e para colocar acima de tudo a
satisfação de seus apetites materiais; quebrados estariam os laços sociais e as mais santas
afeições se romperiam para sempre. Felizmente, longe estão de ser gerais semelhantes
idéias, que se podem mesmo ter por muito circunscritas, constituindo apenas opiniões
individuais, pois que em parte alguma ainda formaram doutrina.. Uma sociedade que se
fundasse sobre tais bases traria em si o gérmen de sua dissolução e seus membros se
entredevorariam como animais ferozes.
O homem tem, instintivamente, a convicção de que nem tudo se lhe acaba com a
vida. O nada lhe infunde horror. É em vão que se obstina contra a idéia da vida futura. Ao
soar o momento supremo, poucos são os que não inquirem do que vai ser deles, porque a
idéia de deixar a vida para sempre algo oferece de pungente. Quem, de fato, poderia encarar
com indiferença uma separação absoluta, eterna, de tudo o que foi objeto de seu amor?
Quem poderia ver, sem terror, abrir-se diante si o imensurável abismo do nada, onde se
sepultassem para sempre todas as suas faculdades, todas as suas esperanças, e dizer a si
mesmo: Pois que! depois de mim, nada, nada mais, senão o vácuo, tudo definitivamente
acabado; mais alguns dias e a minha lembrança se terá acabado; mais alguns dias e a minha
lembrança se terá apagado da memória dos que me sobreviverem; nenhum vestígio dentre
em pouco, restará da minha passagem pela Terra; até mesmo o bem que fiz será esquecido
pelos ingratos a quem beneficiei. E nada, para compensar tudo isto, nenhuma outra
perspectiva, além da do meu corpo roído pelos vermes!
Não tem este quadro alguma coisa de horrível, de glacial? A religião ensina que não
pode ser assim e a razão no-lo confirma. Mas, uma existência futura, vaga e indefinida não
apresenta o que satisfaça ao nosso desejo do positivo. Essa, em muitos, a origem da dúvida.
Possuímos alma, está bem; mas, que é a nossa alma? Tem forma, uma aparência qualquer?
É um ser limitado, ou indefinido? Dizem alguns que é um sopro de Deus, outros uma centelha, outros uma parcela do grande Todo, o
princípio da vida e da inteligência. Que é, porém, o que de tudo isto ficamos sabendo? Que
nos importa ter uma alma, se, extinguindo-se-nos a vida, ela desaparece na imensidade,
como as gotas d’água no Oceano? A perda da nossa individualidade não eqüivale, para nós,
ao nada? Diz-se também que a alma é imaterial. Ora, uma coisa imaterial carece de
proporções determinadas. Desde então, nada é, para nós. A religião ainda nos ensina que
seremos felizes ou desgraçados, conforme ao bem ou ao mal que houvermos feito. Que vem
a ser, porém, essa felicidade que nos aguarda no seio de Deus? Será uma beatitude, uma
contemplação eterna, sem outra ocupação mais do que entoar louvores ao Criador? As
chamas do inferno serão uma realidade ou um símbolo? A própria Igreja lhes dá esta última
significação; mas, então, que são aqueles sofrimentos? Onde esse lugar do suplício? Numa
palavra, que é o que se faz, que é o que se vê, nesse outro mundo que a todos nos espera?
Dizem que ninguém jamais voltou de lá para nos dar informações.
É erro dizê-lo e a missão do Espiritismo consiste precisamente em nos esclarecer
acerca desse futuro, em fazer com que, até certo ponto, o toquemos com o dedo e o
penetremos com o olhar, não mais pelo raciocínio somente, porém, pelos fatos. Graças às
comunicações espíritas, não se trata mais de uma simples presunção, de uma probabilidade
sobre a qual cada um conjeture à vontade, que os poetas embelezem com suas ficções, ou
cumulem de enganadoras imagens alegóricas. É a realidade que nos aparece, pois que são
os próprios seres de além-túmulo que nos vêm escrever a situação em que se acham, relatar
o que fazem, facultando-nos assistir, por assim dizer a todas as peripécias da nova vida que
lá vivem e mostrando-nos, por esse meio, a sorte inevitável que nos está reservada, de
acordo com os nossos méritos e deméritos. Haverá nisso alguma coisa de anti-religioso?
Muito ao contrário, porquanto os incrédulos encontram aí a fé e os tíbios a renovação do
fervor e da confiança. O Espiritismo é, pois, o mais potente auxiliar da religião. Se ele aí
está, é porque Deus o permite e o permite para que as nossas vacilantes esperanças se
revigorem e para que sejamos reconduzidos à senda do bem pela perspectiva do futuro.

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