Estudos do Novo Testamento - Domingo, 22/11/2009 - Mat 26, 31 a 35

Mateus – capítulo 26 - vers. 31 a 35

(31) Então disse-lhes Jesus: "Todos vos escandalizareis de mim nesta noite, pois está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho se dispersarão. (32) Mas depois que eu ressuscitar, irei adiante de vós para a Galiléia".
(33) Respondendo, porém, Pedro disse-lhe: Se todos se escandalizarem de ti, de modo algum eu me escandalizarei.
(34) Falou-lhe Jesus: "Em verdade digo-te que nesta noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás".
(35) Disse-lhe Pedro: Se ainda devesse morrer contigo, de modo algum te negarei. Igualmente também disseram todos os discípulos.


Interpretação: Livro, Sabedorias do Evangelho de C. Torres Pastorino

Aviso a Pedro (livro VII)

O verbo skandalízô, de uso apenas bíblico, tem o sentido de "colocar uma pedra para fazer tropeçar". Mas a transliteração portuguesa "escandalizar" reproduz razoavelmente o significado original, pois a pedra é colocada "moralmente", para provocar a queda espiritual dos fracos e desprevenidos.
Pedro inicia perguntando aonde irá o Mestre, e Jesus explica que ninguém poderá segui-Lo nesse momento: só mais tarde. Mas Pedro, que é homem de “fazer já e não deixar para depois", retruca que "aplicou sua alma sobre ele", repetindo a expressão de Jesus quando falou do "Bom Pastor", que "aplica sua alma sobre suas ovelhas. Diz estar disposto a tudo. Jesus adianta que todos serão experimentados, pois uma vez que ele estiver ferido, todos os discípulos se dispersarão.
Pedro, inflamado, protesta que jamais o abandonará. Jesus novamente esclarece que orou por ele, para que, mesmo tendo fugido, sua fidelidade sintônica não fraquejasse por degradação de vibrações. Todavia, uma vez que se recuperasse, devia sustentar os companheiros. Pedro afirma repetindo teimosa e entusiasticamente, que está pronto a ser preso e morto com seu Rabbi. Então, para provar-lhe que "o Espírito está pronto, mas a carne é fraca", Jesus nos demonstra saber que, antes de o galo cantar pela segunda vez (de madrugada) Pedro, por três vezes, terá negado conhecê-lo.
O "canto do galo" assinalava a terceira vigília que, no princípio de abril, época em que se passam os fatos, terminava às cinco da madrugada.
Os propósitos podem ser os mais ardorosos, mas a personagem se acovarda diante da dor. Embora neste caso de Pedro, como teremos a seu tempo, nada disso tenha ocorrido: ele queria apenas ludibriar os circundantes, para que pudesse ali permanecer a fim de ver aonde levariam e o que fariam com seu Jesus querido.
O "escândalo" a que se referia o Mestre era a crucificação, que faria fugir os discípulos, horrorizados com medo de terem a mesma sorte. No entanto, o aviso fora bem claro: serei ferido, adormecerei, e despertarei do sono; então vos precederei na Galiléia: ainda chegaria lá antes deles! ... Então o escândalo seria o medo e a consequente dúvida, suscitadas pelo intelecto que veria tudo perdido, de acordo com o raciocínio rasteiro comum à personagem: arruinado o corpo - única coisa real, porque visível e palpável - tudo está acabado! Tempo desperdiçado, aquele em que seguiram um Mestre que foi vergonhosamente aniquilado! Perdida a batalha com o sacrifício do general, os soldados dispersam-se desorientados.
Aonde ia o Mestre, ninguém o podia seguir: a conquista de um degrau deste é problema estritamente pessoal, isolado, interno, que se passa no âmago da criatura, embora por vezes se exteriorize em cenas públicas, como no caso da crucificação, "ressurreição" e "ascensão"; ou em fatos que a todos parecem corriqueiros e naturais, mas que trazem no bojo a força irresistível de fazer o candidato dar um passo à frente: morte ou abandono de pessoa querida, uma calúnia violenta, um choque traumático, etc. Ninguém se achava ali em condições de acompanhar o Mestre nesse passo.
A personagem - sempre reivindica e exige, como necessária provação, o direito de "joeirar" ou sacudir violentamente na peneira o Espírito, a fim de experimentá-lo. Mas os verdadeiros discípulos estão sustentados pela "Força Cósmica" e não fraquejam na fidelidade absoluta ao Cristo Interno; e desde que se mantenham fiéis e sintonizem internamente, conservam a capacidade de servir de apoio aos irmãos, ainda que a personagem esperneie. Não se confundam força e fidelidade do Espírito com os artifícios da personagem, que busca valer-se de todos os meios para conseguir seus intentos, sobretudo quando ditados pelo amor. O fato é que as palavras de Simão Pedro não foram proferidas pela personagem, mas foram o ditado de sua individualidade enérgica e firme, através da boca da personagem frágil. Não foram "temeridade", mas "amor" levado ao grau máximo.
Oxalá possamos todos nós manter permanentemente nosso Espírito com a segurança e a firmeza de princípios de Pedro!

*espírito = individualidade
* carne = personagem

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