Reunião Publica: Estudo do Evangelho Segundo o Espiritismo (129)

Ano VIII - 02/12/2012
CAPÍTULO XII - AMAI OS VOSSOS INIMIGOS

Retribuir o mal com o bem
3. Se o amor do próximo constitui o princípio da caridade, amar os inimigos é a mais
sublime aplicação desse princípio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das
maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.
Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar, neste
passo. Não pretendeu Jesus, assim falando, que cada um de nós tenha para com o seu inimigo
a ternura que dispensa a um irmão ou amigo. A ternura pressupõe confiança; ora, ninguém
pode depositar confiança numa pessoa, sabendo que esta lhe quer mal; ninguém pode ter para
com ela expansões de amizade, sabendo-a capaz de abusar dessa atitude. Entre pessoas que
desconfiam umas das outras, não pode haver essas manifestações de simpatia que existem
entre as que comungam nas mesmas idéias. Enfim, ninguém pode sentir, em estar com um
inimigo, prazer igual ao que sente na companhia de um amigo.
A diversidade na maneira de sentir, nessas duas circunstâncias diferentes, resulta
mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos. O pensamento malévolo
determina uma corrente fluídica que impressiona penosamente. O pensamento benévolo nos
envolve num agradável eflúvio. Daí a diferença das sensações que se experimenta à
aproximação de um amigo ou de um inimigo. Amar os inimigos não pode, pois, significar
que não se deva estabelecer diferença alguma entre eles e os amigos. Se este preceito parece
de difícil prática, impossível mesmo, é apenas por entender-se falsamente que ele manda se
dê no coração, assim ao amigo, como ao inimigo, o mesmo lugar. Uma vez que a pobreza da
linguagem humana obriga a que nos sirvamos do mesmo termo para exprimir matizes diversos de um sentimento, à razão cabe estabelecer as diferenças, conforme aos
casos.
Amar os inimigos não é, portanto, ter-lhes uma afeição que não está na natureza, visto
que o contacto de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu bater, ao
contacto de um amigo. Amar os Inimigos é não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos
de vingança; é perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem;
é não opor nenhum obstáculo a reconciliação com eles; é desejar-lhes o bem e não o mal; é
experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha; é socorrê-los, em se
apresentando ocasião; é abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa
prejudicar; é, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os
humilhar. Quem assim procede preenche as condições do mandamento: Amai os vossos
inimigos.

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