Reunião de Estudo: O Evangelho Segundo o Espiritismo (55)

Ano VII - 09/05/2011
CAPÍTULO V
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

A desgraça real

24. Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o
caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a desgraça real
não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem. Eles a vêem na
miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente
desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o
coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara
envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a
muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é desgraça para os que só vêem o presente; a verdadeira desgraça,
porém, está nas conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um
acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta conseqüências funestas, não
é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva contrariedade e acaba
produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos arranca as arvores, mas que saneia o ar,
dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que
uma infelicidade.
Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para
bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos
transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem sentir. Ora,
tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida
corporal e encontra a sua compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que
acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o
prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a
consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao
seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir.
Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito!
A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas do
que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de
súbito na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada pela
indiferença e pelo egoísmo.
Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas,
a verdade e o erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis então como
bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à
paz que lhes não pode dar glória, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega
armas, bagagens e uniforme, desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que tem
fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne, contanto que
sua alma entre gloriosa no reino celeste? - Delfina de Girardin. (Paris, 1861.)

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