Reunião de Estudo: O Evangelho Segundo o Espiritismo (48)

Ano VII - 20/03/2011
CAPÍTULO V
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

O suicídio e a loucura
14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da
confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a
loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à
comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se
encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o
homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o
houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca
acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a
conturbariam.
15. O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de
embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem
ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que
se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que
melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera
quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à
eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que
com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte
vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico
mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.
16. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as idéias materialistas, numa
palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens
de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou
lêem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se
matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa conseqüência? Que compensação
lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se
deve concluir que, se o nada é o único remédio heróico, a única perspectiva, mais vale buscálo
imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo.
A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a idéia do
suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes
doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a
dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente
para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o
afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral.
17. O Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo
e talvez mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação
desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus,
que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem
por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazer refletir os
que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim,
vários motivos a contrapor à idéia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o
ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na Terra: a certeza de
que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado oposto ao que esperava; que se
liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana,
imaginando que, com o matar-se, vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo
a que no outro mundo ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava
encontrar; donde a conseqüência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios
interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm sido, pelo Espiritismo,
obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que, quando todos os homens forem
espiritas, deixará de haver suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as
doutrinas materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do
ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das primeiras a ele
conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma.

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