Reunião de Estudo: O Evangelho Segundo o Espiritismo (47)

Ano VII - 13/03/2011
CAPÍTULO V
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

12.Motivos de resignação
Por estas palavras: Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados, Jesus
aponta a compensação que hão de ter os que sofrem e a resignação que leva o padecente a
bendizer do sofrimento, como prelúdio da cura.
Também podem essas palavras ser traduzidas assim: Deveis considerar-vos felizes por
sofrerdes, visto que as dores deste mundo são o pagamento da dívida que as vossas passadas
faltas vos fizeram contrair; suportadas pacientemente na Terra, essas dores vos poupam
séculos de sofrimentos na vida futura. Deveis, pois, sentir-vos felizes por reduzir Deus a
vossa dívida, permitindo que a saldeis agora, o que vos garantirá a tranqüilidade no porvir.
O homem que sofre assemelha-se a um devedor de avultada soma, a quem o credor
diz: "Se me pagares hoje mesmo a centésima parte do teu débito, quitar-te-ei do restante e
ficarás livre; se o não fizeres, atormentar-te-ei, até que pagues a última parcela." Não se
sentiria feliz o devedor por suportar toda espécie de privações para se libertar, pagando
apenas a centésima parte do que deve? Em vez de se queixar do seu credor, não lhe ficará
agradecido?
Tal o sentido das palavras: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados."
São ditosos, porque se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres. Se,
porém, o homem, ao quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a sua
libertação. Ora, cada nova falta aumenta a dívida, porquanto nenhuma há, qualquer que ela
seja, que não acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã;
se não for na vida atual, será noutra. Entre essas faltas, cumpre se coloque na primeira fiada a carência de submissão à vontade de Deus. Logo, se murmurarmos nas aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que devemos ter merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos,que nos faz perder o fruto que devíamos colher do sofrimento. E por isso que teremos de recomeçar, absolutamente como se, a um credor que nos atormente, pagássemos uma cota e a tomássemos de novo por empréstimo.
Ao entrar no mundo dos Espíritos, o homem ainda está como o operário que comparece no dia do pagamento. A uns dirá o Senhor: "Aqui tens a paga dos teus dias de trabalho"; a outros, aos venturosos da Terra, aos que hajam vivido na ociosidade, que tiverem feito consistir a sua felicidade nas satisfações do amor-próprio e nos gozos mundanos: "Nada vos toca, pois que recebestes na Terra o vosso salário. Ide e recomeçai a tarefa."
13. O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo
por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a
duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da vida espiritual apanha, num
golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a
curteza e reconhece que esse penoso momento terá presto passado. A certeza de um próximo
futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o
fazem avançar. Contrariamente, para aquele que apenas vê a vida corpórea, interminável lhe
parece esta, e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a vida,
resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a
moderar seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber
atenuada a impressão dos reveses e das decepções que experimente. Dai tira ele uma calma e
uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o
ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as angústias
da sua curta existência.

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