Reunião Publica: O Evangelho Segundo o Espiritismo (142)

Ano IX - 10/03/2013
CAPÍTULO XIII - NÃO SAIBA A VOSSA MÃO ESQUERDA O QUE DÊ
A VOSSA MÃO DIREITA

4 - Os Infortúnios Ocultos
Nas grandes calamidades, a caridade se emociona e observam-se impulsos
generosos, no sentido de reparar os desastres. Mas, a par desses desastres gerais, há milhares
de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem
se queixarem. Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe
descobrir, sem esperar que peçam assistência.

Quem é esta mulher de ar distinto, de traje tão simples, embora bem cuidado, e que
traz em sua companhia uma mocinha tão modestamente vestida? Entra numa casa de sórdida
aparência, onde sem dúvida é conhecida, pois que à entrada a saúdam respeitosamente.
Aonde vai ela? Sobe até a mansarda, onde jaz uma mãe de família cercada de crianças. À sua
chegada, refulge a alegria naqueles rostos emagrecidos. E que ela vai acalmar ali todas as
dores. Traz o de que necessitam, condimentado de meigas e consoladoras palavras, que fazem
que os seus protegidos, que não são profissionais da mendicância, aceitem o benefício, sem
corar. O pai está no hospital e, enquanto lá permanece, a mãe não consegue com o seu
trabalho prover às necessidades da família. Graças à boa senhora, aquelas pobres crianças não
mais sentirão frio, nem fome; irão à escola agasalhadas e, para as menorzinhas, o leite não
secará no seio que as amamenta. Se entre elas alguma adoece, não lhe repugnarão a ela, à boa
dama, os cuidados materiais de que essa necessite. Dali vai ao hospital levar ao pai algum
reconforto e tranqüilizá-lo sobre a sorte da família. No canto da rua, uma carruagem a espera,
verdadeiro armazém de tudo o que destina aos seus protegidos, que todos lhe recebem
sucessivamente a visita. Não lhes pergunta qual a crença que professam, nem quais suas
opiniões, pois considera como seus irmãos e filhos de Deus todos os homens. Terminado o
seu giro, diz de si para consigo: Comecei bem o meu dia. Qual o seu nome? Onde mora?
Ninguém o sabe. Para os infelizes, é um nome que nada indica; mas é o anjo da consolação.
A noite, um concerto de benções se eleva em seu favor ao Pai celestial: católicos, judeus,
protestantes, todos a bendizem.
Por que tão singelo traje? Para não insultar a miséria com o seu luxo. Por que se faz
acompanhar da filha? Para que aprenda como se deve praticar a beneficência. A mocinha
também quer fazer a caridade. A mãe, porém, lhe diz: "Que podes dar, minha filha, quando
nada tens de teu? Se eu te passar às mãos alguma coisa para que dês a outrem, qual será o teu
mérito? Nesse caso, em visitamos os doentes, tu me ajudas a tratá-los. Ora, dispensar cuidados é dar alguma coisa.
Não te parece bastante isso? Nada mais simples. Aprende a fazer obras úteis e confeccionarás
roupas para essas criancinhas. Desse modo, darás alguma coisa que vem de ti.” É assim que
aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo
ensinou. E espírita ela? Que importa!
Em casa, é a mulher do mundo, porque a sua posição o exige. Ignoram, porém, o que
faz, porque ela não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência. Certo dia,
no entanto, imprevista circunstância leva-lhe a casa uma de suas protegidas, que andava a
vender trabalhos executados por suas mãos. Esta última, ao vê-la, reconheceu nela a sua
benfeitora. "Silêncio! ordena-lhe a senhora. Não o digas a ninguém." Falava assim Jesus.

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