Reunião de Estudo: Livro dos Médiuns (13)
Ano VII - 25/09/2011
SEGUNDA PARTE - Das manifestações espíritas
CAPÍTULO IV DA TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS
Movimentos e suspensões. Ruídos. Aumento e diminuição de peso dos corpos.
75. Estas explicações são claras, categóricas e isentas de ambigüidade. Delas
ressalta, como ponto capital, que o fluido universal, onde se contém o principio da vida,
é o agente principal das manifestações, agente que recebe impulsão do Espírito, seja
encarnado, seja errante. Condensado, esse fluido constitui o perispírito, ou invólucro
semimaterial do Espírito. Encarnado este, o perispírito se acha unido à matéria do
corpo; estando o Espírito na erraticidade, ele se encontra livre. Quando o Espírito está
encarnado, a substância do perispírito se acha mais ou menos ligada, mais ou menos
aderente, se assim nos podemos exprimir. Em algumas pessoas se verifica, por efeito de
suas organizações, uma espécie de emanação desse fluido e é isso, propriamente
falando, o que constitui o médium de influências físicas. A emissão do fluido
animalizado pode ser mais ou menos abundante, como mais ou menos fácil a sua
combinação, donde os médiuns mais ou menos poderosos. Essa emissão, porém, não é
permanente, o que explica a intermitência do poder mediúnico.
76. Façamos uma comparação. Quando se tem vontade de atuar materialmente
sobre um ponto colocado a distância, quem quer é o pensamento, mas o pensamento
por si só não irá percutir o ponto; é-lhe preciso um intermediário, posto sob a sua
direção: uma vara, um projetil, uma corrente de ar, etc. Notai também que o
pensamento não atua diretamente sobre a vara, porquanto, se esta não for tocada, não
se moverá. O pensamento, que não é senão o Espírito encarnado, está unido ao corpo
pelo perispírito e não pode atuar sobre o corpo sem o perispírito, como não o pode
sobre a vara sem o corpo. Atua sobre o perispírito, por ser esta a substância com que
tem mais afinidade; o perispírito atua sobre os músculos, os músculos tomam a vara e
a vara bate no ponto visado. Quando o Espírito não está
encarnado, faz-se-lhe mister um auxiliar estranho e este auxiliar é o fluido, mediante o
qual torna ele o objeto, sobre que quer atuar, apto a lhe obedecer à impulsão da
vontade.
77. Assim, quando um objeto é posto em movimento, levantado ou atirado para
o ar, não é que o Espírito o tome, empurre e suspenda, como o faríamos com a mão. O
Espírito o satura, por assim dizer, do seu fluido, combinado com o do médium, e o
objeto, momentaneamente vivificado desta maneira, obra como o faria um ser vivo, com
a diferença apenas de que, não tendo vontade própria, segue o impulso que lhe dá a
vontade do Espírito.
Pois que o fluido vital, que o Espírito, de certo modo, emite, dá vida factícia e
momentânea aos corpos inertes; pois que o perispírito não é mais do que esse mesmo
fluido vital, segue-se que, quando o Espírito está encarnado, é ele próprio quem dá vida
ao seu corpo, por meio do seu perispírito, conservando-se unido a esse corpo, enquanto
a organização deste o permite. Quando se retira, o corpo morre. Agora, se, em vez de
uma mesa, esculpirmos uma estátua de madeira e sobre ela atuarmos, como sobre a
mesa, teremos uma estátua que se moverá, que baterá, que responderá com os seus
movimentos e pancadas. Teremos, em suma, uma estátua animada momentaneamente de
uma vida artificial. Em lugar de mesas falantes, ter-se-iam estátuas falantes. Quanta luz
esta teoria não projeta sobre uma imensidade de fenômenos até agora sem solução!
Quantas alegorias e efeitos misteriosos ela não explica!
78. Os incrédulos ainda objetam que o fenômeno da suspensão das mesas, sem
ponto de apoio, é impossível, por ser contrário à lei de gravitação. Responder-lhes-emos
que, em primeiro lugar, a negativa não constitui uma prova; em segundo lugar, que,
sendo real o fato, pouco importa contrarie ele todas as leis conhecidas, circunstância que
só provaria uma coisa: que ele decorre de uma lei desconhecida e os negadores não
podem alimentar a pretensão de conhecerem todas as leis da Natureza.
Acabamos de explicar uma dessas leis, mas isso não é razão para que eles a
aceitem, precisamente porque ela nos é revelada por Espíritos que despiram a veste
terrena, em vez de o ser por Espíritos que ainda trazem essa veste e têm assento na
Academia. De modo que, se o Espírito de Arago, vivo na Terra, houvesse enunciado
essa lei, eles a teriam admitido de olhos fechados; mas, desde que vem do Espírito de
Arago, morto, e uma utopia. Por que isto? Porque acreditam que, tendo Arago morrido,
tudo o que nele havia também morreu. Não temos a presunção de os dissuadir;
entretanto, como tal objeção pode causar embaraço a algumas pessoas, tentaremos darlhes
resposta, colocando-nos no ponto de vista em que eles se colocam, isto é,
abstraindo, por instante, da teoria da animação factícia.
79. Quando se produz o vácuo na campânula da máquina pneumática, essa
campânula adere com força tal ao seu suporte, que impossível se toma suspendê-la,
devido ao peso da coluna de ar que sobre ela faz pressão. Deixe-se entrar o ar e a
campânula pode ser levantada com a maior facilidade, porque o ar que lhe fica por baixo
contrabalança
o ar que, pela parte exterior, a comprime. Contudo, se ninguém lhe tocar, ela
permanecerá assente no suporte, por efeito da lei de gravidade. Agora, comprima-se-lhe
o ar no interior, dê-se-lhe densidade maior que a do que está por fora, e a campânula se
erguerá, apesar da gravidade. Se a corrente de ar for violenta e rápida, a mesma
campânula se manterá suspensa no espaço, sem nenhum ponto visível de apoio, à guisa
desses bonecos que se fazem rodopiar em cima de um repuxo dágua. Por que então o
fluido universal, que é o elemento de toda a Natureza, acumulado em torno da mesa,
não poderia ter a propriedade de lhe diminuir ou aumentar o peso específico relativo,
como faz o ar com a campânula da máquina pneumática, como faz o gás hidrogênio com
os balões, sem que para isso seja necessária a
derrogação da lei de gravidade? Conheceis, porventura, todas as propriedades e todo o
poder desse fluido? Não. Pois, então, não negueis a realidade de um fato, apenas por
não o poderdes explicar.
80. Voltemos à teoria do movimento da mesa. Se, pelo meio indicado, o Espírito
pode suspender uma mesa, também pode suspender qualquer outra coisa: uma poltrona,
por exemplo. Se pode levantar uma poltrona, também pode, tendo força suficiente,
levantá-la com uma pessoa assentada nela. Aí está a explicação do fenômeno que o Sr.
Home produziu inúmeras vezes consigo mesmo e com outras pessoas. Repetiu-o
durante uma viagem a Londres e, para provar que os espectadores não eram joguetes de
uma ilusão de ótica, fez no forro, enquanto suspenso, uma marca a lápis e que muitas
pessoas lhe passassem por baixo. Sabe-se que o Sr. Home é um poderoso médium de
efeitos físicos. Naquele caso, era ao mesmo tempo a causa eficiente e o objeto.
81. Falamos, há pouco, do possível aumento de peso. Efetivamente, esse é um
fenômeno que às vezes se produz e que nada apresenta de mais anormal do que a
prodigiosa resistência da campânula, sob a pressão da coluna atmosférica. Têm-se visto,
sob a influência de certos médiuns, objetos muito leves oferecerem idêntica resistência e,
em seguida, cederem de repente ao menor esforço. Na experiência de que acima
tratamos, a campânula não se torna realmente mais nem menos pesada em si mesma;
mas, parece ter maior peso, por efeito da causa exterior que sobre ela atua. O mesmo
provavelmente se dá aqui. A mesa tem sempre o mesmo peso intrínseco, porquanto sua
massa não aumentou; porém, uma força estranha se lhe opõe ao movimento e essa causa
pode residir nos fluidos ambientes que a penetram, como reside no ar a que aumenta ou
diminui o peso aparente da campânula. Fazei a experiência da campânula pneumática
diante de um campônio ignorante, incapaz de compreender que o que atua é o ar, que
ele não vê, e não vos será difícil persuadi-lo de que aquilo é obra do diabo.
Dirão talvez que, sendo imponderável esse fluido, um acúmulo dele não pode
aumentar o peso de qualquer objeto. De acordo; mas notai que, se nos servimos do
termo acúmulo, foi por comparação, não por que assimilemos em absoluto aquele fluido
ao ar. Ele é imponderável: seja. Entretanto, nada prova que o é. Desconhecemos a sua
natureza íntima e estamos longe de lhe conhecer todas as propriedades. Antes que se
houvesse experimentado a gravidade do ar, ninguém suspeitava dos efeitos dessa mesma
gravidade. Também a eletricidade se classifica entre os fluidos imponderáveis; no
entanto, um corpo pode ser fixado por uma corrente elétrica e oferecer grande
resistência a quem queira suspendê-lo. Tornou-se, assim, aparentemente mais pesado.
Fora ilógico afirmar-se que o suporte não existe, simplesmente por não ser visível. O
Espírito pode ter alavancas que nos sejam desconhecidas: a Natureza nos prova todos
os dias que o seu poder ultrapassa os limites do testemunho dos sentidos.
Só por uma causa semelhante se pode explicar o singular fenômeno, tantas vezes
observado, de uma pessoa fraca e delicada levantar com dois dedos, sem esforço e como
se se tratasse de uma pena, um homem forte e robusto, juntamente com a cadeira em
que está assentado. As intermitências da faculdade provam que a causa é estranha a
pessoa que produz o fenômeno.
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