Reunião de Estudo: O Evangelho Segundo o Espiritismo (36)

Ano VI - 05/12/2010
CAPÍTULO IV - NINGUÉM PODERÁ VER O REINO DE DEUS SE NÃO NASCER DE NOVO

10. Ora, desde o tempo de João Batista até o presente, o reino dos céus é tomado
pela violência e são os violentos que o arrebatam; - pois que assim o profetizaram todos
os profetas até João, e também a lei. - Se quiserdes compreender o que vos digo, ele
mesmo é o EIias que há de vir. - Ouça-o aquele que tiver ouvidos de ouvir. (S.MATEUS, cap. XI, vv. 12 a 15.)

11. Se o princípio da reencarnação, conforme se acha expresso em S. João, podia, a
rigor, ser interpretado em sentido puramente místico, o mesmo já não acontece com esta
passagem de S. Mateus, que não permite equívoco: ELE MESMO é o Elias que há de vir.
Não há aí figura, nem alegoria: é uma afirmação positiva. -"Desde o tempo de João Batista
até o presente o reino dos céus é tomado pela violência." Que significam essas palavras, uma vez que João Batista ainda vivia naquele momento? Jesus as explica, dizendo: "Se quiserdes compreender o que digo, ele mesmo é o Elias que há de vir." Ora, sendo João o próprio Elias,Jesus alude à época em que João vivia com o nome de Elias. "Até ao presente o reino dos céus é tomado pela violência": outra alusão à violência da lei moisaica, que ordenava o extermínio dos infiéis, para que os demais ganhassem a Terra Prometida, Paraíso dos hebreus, ao passo que, segundo a nova lei, o céu se ganha pela caridade e pela brandura.
E acrescentou: Ouça aquele que tiver ouvidos de ouvir. Essas palavras, que Jesus
tanto repetiu, claramente dizem que nem todos estavam em condições de compreender certas
verdades.

12. Aqueles do vosso povo a quem a morte foi dada viverão de novo; aqueles que
estavam mortos em meio a mim ressuscitarão. Despertai do vosso sono e entoai louvores
a Deus, vós que habitais no pó; porque o orvalho que cai sobre vós é um orvalho de luz e
porque arruinareis a Terra e o reino dos gigantes. (ISAÍAS, cap. XXVI, v. 19.)

13. E também muito explícita esta passagem de lsaías: "Aqueles do vosso povo a
quem a morte foi dada viverão de novo." Se o profeta houvera querido falar da vida espiritual, se houvera pretendido dizer que aqueles que tinham sido executados não estavam mortos em Espírito, teria dito: ainda vivem, e não: viverão de novo. No sentido espiritual, essas palavras seriam um contra-senso, pois que implicariam uma interrupção na vida da alma. No sentido de regeneração moral, seriam a negação das penas eternas, pois que estabelecem, em princípio, que todos os que estão mortos reviverão.

14. Mas, quando o homem há morrido uma vez, quando seu corpo, separado de seu espírito, foi consumido, que é feito dele? -Tendo morrido uma vez, poderia o homemreviver de novo? Nesta guerra em que me acho todos os dias da minha vida, espero que chegue a minha mutação. (JOB, cap. XIV, v. 10,14. Tradução de Le Maistre de Sacy.)
Quando o homem morre, perde toda a sua força. expira. Depois, onde está ele? -
Se o homem morre, viverá de novo? Esperarei todos os dias de meu combate, até que
venha alguma mutação? (ID. Tradução protestante de Osterwald.)
Quando o homem está morto, vive sempre; acabando os dias da minha existência
terrestre, esperarei, porquanto a ela voltarei de novo. (ID. Versão da Igreja grega.)

15. Nessas três versões, o princípio da pluralidade das existências se acha claramente
expresso. Ninguém poderá supor que Job haja querido falar da regeneração pela água do
batismo, que ele de certo não conhecia. "Tendo o homem morrido uma vez, poderia reviver
de novo?" A idéia de morrer uma vez, e de reviver implica a de morrer e reviver muitas
vezes. A versão da Igreja grega ainda é mais explícita, se é que isso é possível: "Acabando os dias da minha existência terrena, esperarei, porquanto a ela voltarei", ou, voltarei à existência terrestre. Isso é tão claro, como se alguém dissesse: "Saio de minha casa, mas a ela tornarei."
"Nesta guerra em que me encontro todos os dias de minha vida, espero que se dê a
minha mutação." Job, evidentemente, pretendeu referir-se à luta que sustentava contra as
misérias da vida. Espera a sua mutação, isto é, resigna-se. Na versão grega, esperarei parece aplicar-se, preferentemente, a uma nova existência: "Quando a minha existência estiver acabada, esperarei, porquanto a ela voltarei." Job como que se coloca, após a morte, no intervalo que separa uma existência de outra e diz que lá aguardará o momento de voltar.

16. Não há, pois, duvidar de que, sob o nome de ressurreição, o princípio da reencarnação era ponto de uma das crenças fundamentais dos judeus, ponto que Jesus e os
profetas confirmaram de modo formal; donde se segue que negar a reencarnação é negar as
palavras do Cristo. Um dia, porém, suas palavras, quando forem meditadas sem idéias
preconcebidas, reconhecer-se-ão autorizadas quanto a esse ponto, bem como em relação a
muitos outros.

17. A essa autoridade, do ponto de vista religioso, se adita, do ponto de vista
filosófico, a das provas que resultam da observação dos fatos. Quando se trata de remontar dos efeitos às causas, a reencarnação surge como de necessidade absoluta, como condição inerente à Humanidade; numa palavra: como lei da Natureza. Pelos seus resultados, ela se evidencia, de modo, por assim dizer, material, da mesma forma que o motor oculto se revela pelo movimento. Só ela pode dizer ao homem donde ele vem, para onde vai, por que está na Terra, e justificar todas as anomalias e todas as aparentes injustiças que a vida apresenta.

Sem o princípio da preexistência da alma e da pluralidade das existências, são
ininteligíveis, em sua maioria, as máximas do Evangelho, razão por que hão dado lugar a tão contraditórias interpretações. Está nesse princípio a chave que lhes restituirá o sentido verdadeiro.

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